A prática política do grupo liderado pelo governador Ricardo Coutinho sempre foi marcada pela imposição de estigmas: “fulano é ladrão, de direita, conservador” (usado em muitos casos para identificar os oponentes) e “nossa candidato(a) vem dos movimentos sociais” (fartamente empregado para enaltecer os seus). Nesse momento tentam guinar a candidata até então escolhida, jornalista Estelizabel Bezerra, como pertencente a uma casta de devotados ao bem comum. O problema é que o currículo da moça é muitíssimo limitado, por exemplo, se comparamos com o outro postulante à indicação da base aliada, o também jornalista Nonato Bandeira.
Primeiro, vamos ser corretos: a inteligência de Bandeira supera em muito as da sua oponente, seja no plano político, no acadêmico ou mesmo profissional. Não há como comparar. Se não fosse assim, o trabalho feito por Bandeira teria sido feito por Estelizabel. O articulador político que juntou os partidos e seus donos na “base aliada”, o responsável pela imagem do deputado Ricardo Coutinho, do prefeito e da Prefeitura de João Pessoa por quase duas gestões foi Nonato Bandeira. Enquanto isso, qual a atividade de Estelizabel que pode ser destacada para esta mesma fase? Participação no Caso Cuiá, avanços ilegais em Zonas de Preservação (como no caso do loteamento do José Américo), entre tantos outros que devem pipocar até as eleições. Estelizabel sujava o que Nonato tinha que limpar, para efeito de opinião pública. (ver documentos publicados no link http://telaarana.blogspot.com/2010/10/telarana-divulga-documentos-que.html)
E, se lembrarmos das fases anteriores a atuação nas gestões Ricardo Coutinho na Prefeitura ou no Governo do Estado, qual a participação de cada um? Como contribuíram com os Movimentos Sociais? O que defendiam desde a passagem pelos bancos da Universidade Federal da Paraíba? De Estelizabel é possível lembrar a vida mansa, embaixo dos pés de castanholas do antigo Departamento de Artes e Comunicação. Nas mesmas datas Nonato Bandeira se destacava como liderança estudantil, um dos mentores da autogestão no Centro Acadêmico do Curso de Comunicação Social e um dos grandes articuladores do Movimento Estudantil da Paraíba.
Na luta pelos interesses estudantis, Bandeira atuou decisivamente em alguns embates com o grupo Viração (PC do B), fortíssimo adversário no Movimento Estudantil. Entre as ações de maior visibilidade se pode extrair o caso Prac, caracterizado pela gratuidade do Restaurante Universitário à comunidade estudantil. Essa luta rendeu um processo na Justiça Federal que infernizou a vida de aproximadamente 25 estudantes, entre os mais destacados (sem querer ser desprestigioso com os demais integrantes) estavam Nonato Bandeira, Luiz Henrique e o hoje ator da Globo, Beto Quirino. Ato contínuo, o reitor eleito Antônio Sobrinho decreta a gratuidade dos serviços do Restaurante Universitário. Novamente ponto para Bandeira, já que a página dedicada por Estelizabel aos Movimentos Sociais, na mesma época, permaneceu em branco.
Ainda como estudantes de jornalismo é possível identificar outras incursões de Bandeira e as ausências de Estelizabel pelos Movimentos Sociais: vale lembrar a luta pela melhoria dos cursos de comunicação (em especial o de jornalismo) de todo o país. Nonato Bandeira, também nesse quesito, foi figura de proa conduzindo alguns debates e propondo algumas pautas nos Encontros Nacionais de Órgão Laboratoriais (Enol) que contribuíram significativamente para a melhora dos cursos de jornalismo. Nas mesmas datas, o que fazia pensava ou produzia Estelizabel no seio dos Movimentos Sociais? Novamente temos uma página em branco em sua história.
Imediatamente concluída a passagem pela Universidade pelo Movimento Estudantil, Nonato Bandeira focou o Sindicato dos Jornalistas. As discussões sobre as condições de trabalho e de salários levaram a uma mobilização da categoria sem precedentes. Bandeira também foi destaque nas discussões e nas ações que conduziram à uma greve inédita e jamais repetida dos jornalistas. Por 16 dias os jornais paraibanos nutriram-se quase que exclusivamente de releases e de informações provenientes das Agências de Notícias. Na luta pela direção do Sindicato dos Jornalistas, Nonato criou o grupo “Querubins”, integrado por “focas” (iniciantes) dos jornais locais e lutou pela hegemonia do Sindicato. Bons tempos, saudáveis discussões e embates. Na mesma época, do outro lado do corner, impávida, Estelizabel e sua folha de contribuição permanecia branca, iniciando um leve amarelar pela ação do tempo.
Passadas as refregas com as direções dos jornais locais por melhores condições de trabalho e de salário, Nonato Bandeira se destaca como editor de alguns jornais. Sua atuação principal deu-se com os artistas locais. Os cadernos de cultura dos jornais onde atuou (Correio da Paraíba, O Norte e A União) pareciam ilhas de bom gosto dentro dos limitados conteúdos das demais editorias (política, polícia, esportes, etc.). Creio que os agentes culturais que atuavam nesta época podem atestar os espaços e o trato dos cadernos de Cultura editados por Nonato Bandeira.
Maduro e calejado pelas passagens no mundo do Movimento Estudantil, Sindical e profissional, Nonato Bandeira investe na Associação Paraibana de Imprensa -API. Eleito num movimento empolgante, sobretudo pela participação animada e aguerrida do baixo clero da imprensa, Bandeira aporta no Terraço da API um dos recantos de acolhida do Movimento Cultural. Shows musicais, recitais de poesias e uma infinita participação nas discussões mais gerais que clamava pela participação da API foram levadas a efeito. A sede da Associação Paraibana de Imprensa teve seus momentos de casa lotada, de efervescência político-cultural.
Para ser justo, nesta mesma época Estelizabel passou integrar o setor de cultura do Sesc, importante espaço de atuação cultural da cidade, comandado pelo jornalista Chico Noronha. Mas o papel de Estelizabel era secundário, de coadjuvante, como figura de popa e de pouco e efetivo destaque. Também integrou o Movimento de Mulheres, integrando a ONG “Cunhã: coletivo feminista”. Igualdade de tratamento de oportunidade para as mulheres eram algumas das causas defendidas. O direito das mulheres decidirem sobre seu próprio corpo (a luta pela legalização ou descriminalização do aborto) era a principal palavra de ordem de Estelizabel Bezerra. Não há como negar que era e continua sendo causa de alcance social, justamente quando sabemos que muitas mulheres morrem em virtude de abortos clandestinos realizados em garagens e clínicas de fundo de quintal. Descontadas as devidas proporções, Estelizabel marca ponto nesta luta.
O que não se admite é inflar a passagem de Estelizabel pelos chamados “Movimentos Sociais”. Sobretudo quando comparamos a passagem de Bandeira também pelos Movimentos Sociais. O que vale para a escolha do candidato não é o currículo vitae nos movimentos sociais. O que importa para Ricardo Coutinho é ter um “capacho prá chamar de seu” (plagiando Rubens Nóbrega). Neste quesito Nonato Bandeira perde feio, como perdeu na indicação como vice-prefeito na chapa do atual governador.
A capacidade de resignação de Bandeira é grande, mas não sei se esta segunda punhalada nas costas estará cicatrizada após a batida do martelo. Sobretudo porque Bandeira foi homem de confiança para gerir a imagem do ex-deputado, ex-prefeito e atual governador e de seus governos. Teve carta branca para buscar alianças entre partidos, amenizou o azedume que Ricardo Coutinho gozava com os empresários de comunicação do Estado, parecia ser um bom e fiel amigo. Mas, não serve para ser prefeito, segundo Ricardo Coutinho. Não serve porque não se dispõe a ser capacho, melhor dizendo.
Enquanto a disputa parece amena e com a possibilidade de mais uma vez presenciarmos a resignação de Nonato Bandeira, um silêncio tumular dos velhos e novos “companheiros” jornalistas campeia em terras Tabajaras. Onde estará o companheirismo de colegas como Ruth Avelino, Agenilson Santana, Ednaldo Granadinha, Fernando Moura, Lívia Karol, entre tantos outros na defesa da candidatura de Nonato Bandeira à Prefeitura de João Pessoa?