segunda-feira, 1 de novembro de 2010

As eleições brasileiras publicadas no EL PAÍS

Dia de todos os Santos na Espanha. Feriado nacional. A capa do jornal de maior circulação, EL PAÍS, destaca a foto da primeira presidenta eleita no Brasil, Dilma Roussef e menciona a vantagem de 12 pontos sobre o seu adversário no segundo turno, o Social Democrata José Serra. Parece pouco, mas não é. Na mesma capa em que Dilma ganha destaque em foto o jornal publica confronto entre o PSOE (Partido Socialista Obrero Español) e o oposicionista Partido Popular (PP): corte de gastos públicos, ampliação para a idade mínima de aposentadoria (de 65 para 68 anos) dão a tônica da reportagem sem fotografia.
No interior do jornal, duas páginas completas abrem a seção internacional do EL PAÍS. As eleições brasileiras cristalizam uma série de outras unidades informativas publicadas durante o ano.  No mês de outubro, pelo menos dez grandes reportagens abordaram a disputa eleitoral e os problemas que o futuro presidente terá que afrontar, apesar dos avanços conseguidos nos oito anos de governo Lula da Silva. Na maioria destas unidades o tamanho variou, mas prevaleceu os destaques de página inteira e até duas páginas.
Inegavelmente, o presidente Lula deixa deixará o país com uma imagem internacional muito melhor. As referências sobre a violência e a desigualdade ainda ocupam espaços significativos nas páginas dos jornais espanhóis. Mas é visível que estas imagens negativas são cada mais escassas em se comparando com outros temas mais relevantes. O Brasil passa a ganhar destaque como referência na produção de energia e combustíveis (não só pelas descobertas recentes de jazidas de petróleo em águas profundas, mas também pelo uso do biodiesel, álcool combustível, etc.), na economia e nas relações internacionais.
Diferente das manchetes que, via de regra, estampam nas páginas dos impressos mais importantes do país, o caráter positivo das aparições do Brasil nas reportagens e notícias publicadas no EL PAÍS (ainda que em caráter provisório e superficial) nos anima a afirmar que o país é uma referência importante. Detalhe: os brasileiros souberam perceber e separar os interesses de grupos econômicos e ideológicos nas informações produzidas pelos grandes conglomerados de comunicação nacionais e os avanços conquistados no governo Lula e apontaram para a sua continuidade com Dilma Roussef.
Daqui, de ultramar, olhando de lugar frio e chuvoso, percebo que o Brasil é muito maior do que a imprensa nacional tenta fazer crer aos brasileiros. Sobretudo em períodos eleitorais e quando os interesses dos proprietários dos mais importantes meios de comunicação estão centrados no Estado de São Paulo e na riqueza de poucos em detrimento de muitos.
Destaque em amarelo inserido pelo blogueiro
Tiririca internacional- A sisuda cara e o apelo ultra-conservador de José Serra, sobretudo em temas relacionados ao aborto e a religião contrastam com a aparição de Tiririca em terras del Quijote. Num breve comentário de dois parágrafos o articulista da seção internacional de EL PAÍS, Moisés Naím, trata a eleição do palhaço Tiririca como um sinal de consolidação democrática e um sinal claro da população em escolher personagens muito distante do estigma do político tradicional e lembra seus discursos mais badalados en castellano: “Yo no sé qué hace un diputado federal, pero si me eliges, voy al Congreso y te lo cuento. Quiero ayudar a la gente de este país, pero sobre todo a mi familia”. 

Na Paraíba. A distância é grande, mas é importante registrar a vitória do ex-prefeito de João Pessoa, o socialista Ricardo Coutinho sobre o seu ex-companheiro de caminhada (até as últimas eleições estaduais), o peemedebista Zé Maranhão. Passada a refrega, é importante atentar para a formação do governo com a distribuição das secretarias. O eleitor saberá por volta do final de 2010 como as composições se efetivarão, já que a carência de parlamentares fiéis e/ou dependência de base sólida dos socialistas poderão fazer ressurgir figuras como Joácio Morais, Pedro Adelson, etc. A composição das pastas apontará os rumos do novo governo.
Até lá, os sentimentos republicanos exigem que uma série de fatos registrados até o dia da eleição sejam verificados. Sobretudo quando o assunto é a compra de 2 mil passagens  de ônibus para Campina Grande e região do Cariri pelo superintendente da Emlur (Deusdete  Queiroga) ou a milionária desapropriação de parte da alagadiça Fazenda Cuiá, passando pela denúncia de traficantes de drogas que detinha títulos eleitorais, como mencionou o governador eleito em entrevista. 
A desapropriação dos alagados do Cuiá ganha reforço, principalmente depois do tom intimidativo que vociferou o prefeito Luciano Agra ao ameaçar quem insistisse no assunto. É fato que o terreno alagadiço desapropriado carece de amparo legal, segundo juristas experts no tema. O colunista Rubens Nóbrega publicou, inclusive, nota sobre o assunto. Para além das questões legais existem as de fundo moral: não é demais lembrar que o Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci), em laudo enviado e publicado por Nóbrega, deixou claro a excessiva superioridade de valores (prá não afetar aos ouvidos do prefeito) pagos pelo metro quadrado da localidade desapropriada.
Mas, até mesmo no entender de qualquer criança de 5º ano primário que esteja aprimorando o aprendizado das operações sabem que 2,5 é maior que 1. É só estabelecer o comparativo entre os valores pagos pelo metro quadrado do Altiplano Cabo Branco (onde se construiu o Estação Ciência) com o alagadiço do Cuiá. Simples.
"Mais fede". Registra-se na entrevista concedida pelo prefeito Luciano Agra ao Portal de Notícias WSCom, que agora existe um espaço reservado para um campus da Universidade Federal e que essa é uma antiga reivindicação. A UFPB já dispõe de terreno, mais central e valorizado, situado em Mangabeira. 
A administração da UFPB tem, inclusive, registrado dificuldades em manter o espaço longe das ocupações (invasores), como havia dito o próprio reitor em uma de suas reuniões registradas no Centro de Ciências Humanas Letras e Artes. Também a tentativa de afirmar-se como criador de parques entra em contradição quando é sabido (com documentação já exibida) que Luciano Agra autorizou loteamento em Zona Especial de Proteção. Como se diz no popular “quando mais mexe, mais fede”





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