A disputa foi perdida, mesmo com a ajuda dos integrantes da “Causa Operaria” de Lourdes Sarmento e Luiz Júnior (chefe de gabinete do reitor Rômulo Polari). Poucos lembram esse tropeço eleitoral de Ricardo Coutinho. Mas, mesmo na adversidade da derrota nas urnas estava alicerçada a candidatura para uma das vagas na Câmara Municipal de João Pessoa. A esta nova fase da política partidária, somaram-se outros tantos, entre eles, o professor Nelson Lucena, o ex-funcionário da Assembléia Legislativa (hoje juiz de Direito), Francisco Lianza. Éramos poucos e nos reuníamos no então apartamento de dois quartos de edifício Piracicaba (se não me engano), no Jardim Cidade Universitária, Bancários.
Nesta fase inicial, é importante deixar claro, nossos maiores adversários estavam no interior do Partido dos Trabalhadores. Eram eles: Luis Couto, Júlio Rafael (que depois seria alcunhado de Judas Rafael por Coutinho), Chico Lopes, Avenzoar Arruda, Anísio Maia, Agamenon Vieira, Derly Pereira, entre outros de menor monta. Os recursos para tocar a campanha eram minguados, mas sobravam entusiasmo e perseverança. Ricardo foi eleito a primeira vez com mais de 1.300 votos, que significou ser o mais votado entre os três eleitos pelo PT.
As vitórias eleitorais que se seguiram estão mais presentes na memória de jornalistas, militantes, integrantes do novo partido, o PSB, etc. Esta rememoração é importante para que não digam que estou sendo comprado (virou moda entre os que integram a militância de Ricardo Coutinho) e para deixar claro que não sou um estranho ou noviço nesse ninho. As boas considerações só se efetivam com a adesão, nunca com divergência.
Realizado este breve histórico permito-me elencar as razões, para, se estivesse na Paraíba por ocasião da eleição, em 03 de outubro, não votar em Ricardo Coutinho. Vou começar pelas motivações mais recentes (algumas me causaram um profundo estranhamento entre o personagem que conheci no princípio da carreira política e o atual candidato ao Governo do Estado). Passemos a elas:
1) Pela recente aliança com as forças mais atrasadas do Estado, Efraim Morais e os hereditários Cunha Lima. É importante deixar claro que aposto num projeto de Brasil e entendo que a Paraíba não é uma ilha. É impossível dizer e se fazer entender que vota e torce por Dilma e Lula e, ao mesmo tempo tentar levar dois senadores que fazem oposição (um deles inclusive com demonstração de oposição irresponsável) a um plano de governo que tirou da pobreza milhares de brasileiro, que consolidou o país como uma economia pujante, que possibilitou milhões de empregos com registro no mercado laboral, que está investindo fortemente nas universidades públicas, etc.;
2) Pela arrogância e prepotência registradas no transcorrer do personagem Ricardo Coutinho. Conheci o antigo e não reconheço o atual. Sei que as liturgias do cargo nem sempre são bem entendidas e, em alguns casos podem parecer arrogância. Mas não me refiro a esta possibilidade de confusão. Falo da possibilidade de entender quem possui idéias e pontos de vista diferentes. Veja o caso do ativista cultural, Flávio Eduardo Fuba. Se não estás comigo é porque recebeu propina, foi comprado, etc. Claro que isso “não saiu da boca do candidato Ricardo Coutinho”, mas em nenhum momento ele se opôs a este tipo de procedimento difamatório e se pronunciou pela liberdade de tomadas de decisão. Ou me segues ou tu és meu inimigo.
3) Pela mudança de rumos na aplicação de políticas para o setor educacional e cultural. Não conheço nenhuma Biblioteca Pública Municipal que possa ser considerada como tal. Que política Cultural é essa onde não existem investimentos em bibliotecas públicas. Era o mínimo, Ricardo Coutinho, que deveria ser feito para o cidadão da Capital. OK, tudo bem!!! Vai dizer que existem praças, que é um espaço de integração e de cultura. Mas pelo menos um percentual do total das verbas investidas nas praças bem que poderia ter sido gasto com bibliotecas públicas. Tá bom, Ricardo, você pode até argumentar que falta dinheiro, verbas, recursos. Mas não é um contrasenso tantas praças e tão poucas (ou nenhuma biblioteca) pública? É muito circo e pouco pão para as almas e mentes. Vou ficar apenas com este exemplo, embora existam questões a serem expostas sobre as apresentações e cachês com bandas e personalidades da música nacional e local.
4) Por não saber lidar com o contraditório. Não pensamos igual. Somos diferentes e há que respeitar as opiniões. Os “bons”, os “corretos”, os “decentes”, os “progressistas” não só o são quando estão ao meu (seu) lado. Eles existem em nas várias dimensões da política do Estado e do País e não somente quando concordam convosco. Entenda que Cássio, Luis Couto e outros eram tratados pelo então deputado petista, Ricardo Coutinho, da seguinte forma: “Só apoio uma candidatura nestas eleições que seja, verdadeiramente, de oposição ao prefeito Cícero Lucena. Este grupo que controla o PT, o grupo de Luiz Couto, nunca fez oposição ao PMDB do R (grupo Cunha Lima da qual o prefeito Cícero Lucena faz parte).”, Correio da Paraíba, p.05. 2000). Ou ainda: “Esta aliança em Campina fere a resolução do PT de ser contra quem apóia FHC, como Cássio. Depois, não se pode dar suporte a oligarquias que, há muito mandam na política do Estado” (Correio da Paraíba, em 24/02/2000). O que mudou, caro candidato? Existem outras pérolas mais agressivas. Estas, no entanto, revelam o que pensava o parlamentar Ricardo Coutinho de duas figuras que hoje gozam da sua mais alta consideração.
5) Pelo abandono do Centro Histórico da Capital. Antes de ser prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho buscava levar os eventos e promoções para o Centro Histórico. É bem verdade que ainda no primeiro mandato realizou por lá várias atividades culturais. Mas, com a construção da Praça de Concreto do Ponto de Cem Réis o abandono veio de um só golpe. Aliás, alguém lembra onde anda o Projeto Moradouro (nome mais infeliz)? Não havia a iniciativa de tornar o Centro Histórico de João Pessoa habitado, vivo, utilizando os velhos casarios. Em que gaveta anda esse projeto que traria moradia para centenas de famílias?
6) Pela forma consentida com que se liberam os loteamentos urbanos, principalmente em Zonas de Proteção Ambiental. Não é passivo de compreensão que Ricardo Coutinho fez vistas grossas para a efetivação de empreendimentos que tendem a impermeabilizar o solo em áreas próximas a rios e/ou córregos, e que, em alguns anos, ajudará nos alagamentos de alguns pontos da nossa Capital. Ou fez vistas grossas ou não tinha controle sobre seu quadro de secretários, entre eles os mais fieis.
7) Pela forma superficial e apenas arquitetônica (de fachada) de tratar a Saúde. Não é a toa que o sarampo, que estava praticamente afastado da região, voltou. Alguém pode imaginar o que diria Ricardo Coutinho se a Prefeitura estivesse nas mãos do senador Cícero Lucena e um brote de sarampo acometesse a Capital. Mas não é só isso e os graves problemas com saúde não são queixas infundadas da oposição. Eu mesmo estive com Ricardo Coutinho (ainda no primeiro mandato) e, como sempre costumava fazer, repassei pontos de vista e críticas a política empreendida para a área. Disse-lhe que precisava mudar o rumo da política de saúde, que o atendimento era péssimo (apesar das construções de alguns postos do PSS), que tive exemplos com pessoas próximas e que integram minha família. Ele simplesmente disse que era coisa da oposição, “que gostaria de ter um quadro de técnicos mais enxuto e que estava trocando pneu com o carro andando”.
8) Pela folga como administrava alguns arroubos familiares. Nesta mesma reunião que tive com Coutinho e que mencionei acima, falei-lhe de uma de suas irmãs. Disse-lhe que a atitude dela em relação a uma prestadora de serviço da área de comunicação não estava de acordo com uma postura republicana: “com quem você pensa que está falando? Sou irmã do prefeito.” Esbravejava uma de suas irmãs quando da realização de uma das várias encenações da Paixão de Cristo, ainda no primeiro mandato. Ricardo disse que não acreditava e encerrou o assunto.
Por estes e tantos outros não votaria em Ricardo Coutinho