sexta-feira, 29 de outubro de 2010

De José Serra a Paulo Preto e de Ricardo Coutinho a Luciano Agra

 Meses atrás expus aqui neste blog que o candidato Ricardo Coutinho votaria em José Serra por conta das circunstâncias e aproximações com o tucanato paraibano. Mas, quando o fiz, não imaginava que além do voto em Serra, confirmado pelo material de campanha impresso e divulgado, Ricardo Coutinho utilizaria os mesmos artifícios para com seu escudeiro, abandonando Luciano Agra (sobre a desapropriação superfaturada de parte da Fazenda Cuiá) e jogando-o às feras, assim como fez o presidenciável tucano com Paulo Preto.
O leitor e eleitor devem lembrar do debate em que a candidata a Presidente da República Dilma Roussef, tratou do cidadão Paulo Preto, um dos integrantes do governo Serra em São Paulo, acusado de desviar 4 milhões de reais. A exposição do fato levou o presidenciável tucano a negar conhecer o seu auxiliar no comando do Estado mais economicamente forte da União. Serra deixou claro, ainda no debate, que além de desconhecer o personagem, não tinha ciência sobre as denúncias que o envolviam. Só depois de recado de Preto, “ninguém abandona os amigos às feras”, Serra recuperou a lembrança do colaborador.
No último debate ocorrido na TV Cabo Branco entre os candidatos ao Governo da Paraíba, um fato semelhante ocorreu quando veio à tona denúncia de superfaturamento de parte da Fazenda Cuiá, avaliado por experts do Conselho Regional de Corretores de Imóveis em pouco mais de 2 milhões. A Prefeitura de João Pessoa pagou na transação quase 11 milhões, em tempo recorde (menos de um mês para a efetivação de duas parcelas) e às vésperas das eleições.
Ricardo Coutinho, inicialmente, tentou fazer de conta que não era com ele. Mas, tampouco podia dizer que não conhecia seu escudeiro, ex-secretário de planejamento, ex-vice-prefeito e agora prefeito de João Pessoa, Luciano Agra. Ele deixou implicitamente claro que, se alguém deve ser inquirido e responsabilizado sobre o caso, este deve ser o governante da Capital.
O sorumbático e quase mudo prefeito, Luciano Agra, parece ter absorvido o golpe. Tanto assim que resolveu falar (nesta sexta, 29) sobre as denúncias levadas ao ar pelo assessor da PMJP, Gustavo Pessoa, integrante da comissão que “avaliou” (sem sequer ter ido ao local) a área. Os valores da desapropriação e a celeridade no processo, ainda segundo Pessoa, foram recomendados pelo prefeito e secretária de planejamento, Estelizabel Bezerra.
Como era de esperar, assim como fez Ricardo Coutinho no debate da TV Cabo Branco ao repassar responsabilidades de forma clara para Luciano Agra, este último já tenta repassar para os seus auxiliares. O fato é que até o momento, ninguém do staf municipal defende a justeza do valor pago pela PMJP na desapropriação do terreno alagadiço.
Republicanismos de discurso à parte, o que os cidadãos paraibanos querem e devem saber é onde, como, em que conta entrou e para quem foi repassado o excessivo quantitativo em reais pagos ao terreno do Cuiá. Não cabem dúvidas que os valores foram superajustados, mas será esse o único caso de irregularidade envolvendo interessados na especulação imobiliária?
Terá sido esse o único superfaturamento que envolve a Prefeitura de João Pessoa? O jornalista Rubens Nóbrega vem mostrando os descaminhos de alguns processos da Prefeitura da Capital: transformação de ZEP em loteamento, merenda escolar, coleta de lixo, pregão de equipamentos de informática, etc. O Ministério Público precisa sair da letargia, afinal de contas, a denúncia do Cuiá não ocorreu ontem, embora só agora o órgão venha apurar os fatos.


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